domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sóis III


Tia Iolanda
E lá me ia eu, repetindo mais um objetivo inglório: comprar um saco de balas, um litro de xarope de groselha e um pacote de rapadurinhas de leite, que se desmanchavam na boca, conforme instruções de Iolanda. Eu carregava parcos 12 ou 13 centavos nos bolsos de cinco ou seis anos de idade, o que somente dava para voltar da distribuidora de bebidas doces e confeitos, a umas três ou quatro quadras da casa, com uma mísera barrinha de puxa-puxa, no máximo.
O pior era o constrangimento e a indignação com o balconista do estabelecimento, por este dar risadas e me fazer concluir incrédulo, que fora enganado mais uma vez por minha Landinha.
Báh! Eu voltava corado e puto da cara, meio choroso, mais uma vez, pois sempre caia na sua conversa de sereia ilusionista.
Iolanda era uma tia, irmã de meu pai e morava na casa da frente, com meus avós. Eu e minhas duas irmãs a amávamos acima de qualquer coisa. Ela nos ensinava a dizer palavrões, a arte de tocar acordeon, do que era professora, e especialmente, me fazia pulular ridiculamente ao ritmo das mazurcas que tocava, inventando concursos de dança, entre nós e vizinhos próximos, tudo para se divertir. A vida era um circo de espetáculos absurdos que ela inventava, pois estava sempre disposta a aprontar alguma bizarrice hilariante e nós éramos parte da sua troupe.
Ela era linda e devia ter sido miss Rio Grande, não fosse o atraso do modo de pensar açougueiro de meu avô, e dos preconceitos gerais da cidade interiorana em que vivíamos, que a intimidaram a concorrer pela cidade, pois Iolanda era reconhecidamente muito linda. Era dotada de uma beleza clássica à la Ingrid Bergmann.
Enfim, são enternecedoras as recordações dessa tia-irmã, que eu tenho como pedra fundamental de minha vida e que eu tinha certeza, fosse estar eternamente entre nós, o que findou não se realizando. Aquela que sempre amarei e que naqueles idos, idolatrava como uma verdadeira deusa terrena.

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