sábado, 26 de novembro de 2011

Ciranda

A que horas sai o trem pai?
Ele de valise, naquele tempo usavam-se sempre as mesmas poucas roupas, e de estojo do saxofone nas mãos, eu de calças curtas, boné, pasta e mãos dadas.
Subimos no ônibus, rumo ao show de jazz em Pelotas, eu todo orgulhoso por ir junto com ele, apesar de ter de ficar na casa da tia Seca durante aquele evento, era assim que eu a chamava imaginariamente, embora seu nome verdadeiro fosse Carlota. Ela era irmã de meu pai. Era magra e fria comigo, hoje penso que morreu virgem, pois nunca soube de um caso amoroso seu. Ela tinha um comportamento um tanto neurótico e, conforme os costumes da época, nunca se faziam tratamentos para esses males, era assim mesmo, a pessoa ou mantinha-se ilhada num mundo defensivo próprio, ou já ia direto para o sanatório devido aos surtos. Ele tocaria com sua banda Jazz Ellen ou Jazz Colúmbia, uma delas, não lembro exatamente qual, mas minha veia musical prematura me fazia exultar de emoção, mesmo não podendo assistir e participar daquela celebração. Depois o veria ensaiar em casa e pronto. Já estava bom. Até hoje meio século depois ainda assisto aquela apresentação que nunca vi. Aquela viagem me acompanha com matizes e cheiros, como um espectro indissolúvel. Como um sonho.

sábado, 19 de novembro de 2011

Pensares

Quando eu viajava, passeando num sonho,
te vi fruída
tu em teu tanto.
A vastidão do teu universo
é o mar que sei, mas desconheço
Assim quase tanto
o que tento saber toda hora.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Visões II

Por mais difícil que tenha sido a vida, não vale a pena jogá-la fora, na vã esperança de que esta seja ressarcida, num balcão de reclamações divinesco.