segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Mestre Nelson



Meu pai detonava no sax e no clarinete. Era conhecido como Mestre Nelson e regia a banda da BM e as orquestras por onde passava. Lia e escrevia partituras perfeitamente. Gostava de escrever as músicas que inventava, para que seus colegas de banda se esbaldassem nos embalos de jazz que tanto adorava. Tenho guardados seus cadernos amarelados, de tantas canções. Ele tinha uma letra manuscrita muito elegante. Um detalhe: era semi-alfabetizado.
Dava-se bem com as notas, claves e pausas, e até dispunha-se a ensinar a alguns aprendizes, a linguagem escrita nas pautas, que ele mesmo apreendeu pelo amor à quarta arte, contra a vontade de seu pai, meu avô, -que achava a música coisa de vagabundos-, riscando com carvão nos lados internos dos muros de um terreno baldio na sua cidade,  Rio Grande, e executando num clarinete velho, emprestado, aulas que um conhecido da banda da gloriosa Brigada Militar lhe ensinava. Foi uma luta e vitória sua. Formou-se músico.
Acho que é mais ou menos assim, não importa em que idioma, quando e por quem foi criada, pois a música tem seu próprio estado de manifestação e vai direto ao ponto. Música é música, e decerto, mais uma forma de sentimento que se capta pela audição como a chuva na calçada, o vento nas palmeiras, uma declaração de amor. Uma dessas linhas diretas de comunicações com o coração.

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