sábado, 26 de março de 2011

A Estrada de Lennos

A vez do Yin


“Apesar de tudo, aquele que se tornar bom será bom, aquele que não se tornar, não será”


O tempo bate seus tambores, e eu já desconfiava aonde ia terminar, com toda aquela insensatez inconsolável, de certo modo, tão difícil, quase impossível, de contornar sozinho.

Um caralho! Curtição, festa, loucura, um caralho! Dei meu berro lanceiro de levante.

É com esse que eu vou, aterrissar, sair do labirinto, pés no chão, cabeça no lugar, lá vou eu, irmão.

Como um aviãozão sem trens de aterrissagem nem nada, lá vou eu! Vou meter um pouso de barriga mesmo, daqueles bem colhudos. Vou me foder todo mas se tem que ser o fim, que seja por uma causa nobre. Sou um nobre, sempre tive atitudes de nobreza de alma.

Então, dando sequencia a uma história decaída, tal qual decorrera com um avô alcólatra, com quem tive grande interação na infância, parei. A partir de hoje paro de beber, pulo nu, numa piscina cheia de água gelada em pleno inverno pampeano. Eu já tinha lá motivos de sobras para mais do que isso.

Passei também, consequentemente, a me desfazer de mim fumante. Esse era mais outro entrave, palpável, real, a meu objetivo de despertar. Eu sou radical, não é mesmo?

E as drogas? O que são drogas? Aquele pequeno par de muletas que nos leva a acreditar que podemos congelar algo, desaparecer com a realidade difícil, dentro do momento. Nosso passaporte para uma viagem no parquinho da anti-depressão. Passei a passar com o tempo, a aprender a sofrer de cara. Dar a cara e oferecer a outra face. Ser pequeno, mas ser único! Ter coragem.

Assim, depois do primeiro susto no caminho da libertação a alma se acostuma, portanto, a renegar aos demais vícios, é só uma questão de tempo, e no meu caso, eu fui progressivamente me adaptando à vida prazerosa e simples da qual já havia perdido o norte, recuperando a visão de uma existência melhor. Sou testemunha: Um fantasma morreu.

O amor incondicional é fóda. Por isso é raro. Acredito que o amor mude até o comportamento e as manias do próprio diabo. Não há ser que ungido pelo amor verdadeiro não se converta a algo melhor.

Depus as armas, joguei a toalha no tatame diante de um oráculo de amor, vencido por algumas certas palavras, por um relativo período de tempo.

Diante das súplicas de minha mãezinha, baixei a guarda e mudei o rumo de minha história, espírito altivo que sempre fui. Acredito também, que venha de onde vier, uma enxurrada de amor é motivo suficiente, como ocorreu comigo, para demover um ser humano de seus mais autênticos ideais suicidas. No meu caso, não tenho porque desconhecer a autoria de passagem tão emotiva e apaziguadora, que originou-se dessa “santa de casa”, minha mãe, que procedeu uma reviravolta tão definitivamente fundamental em minha vida.

Tá certo: dei trabalho? Evidente. Dificultei as coisas para mim e para meus próximos? Com certeza.

Mas está lá. Aí está o alvorecer de uma nova jornada, de um novo percurso, nessa minha breve e longa passagem pelos caminhos do tempo.

Desse momento em diante, foi como parecer um careta onde a loucura era a normalidade.

Parecer? Mas o que é parecer? Para dentro ou para fora? A presença ou o reflexo? Transitar num ambiente de reflexos quando se é o ser em sua profundidade.

Doloroso e reconciliante. Assim era o novo mundo em que me abracei de corpo e alma. Aqui vou eu mamãe, acabei de me perdoar da loucura de não querer ver, estou vendo mamãe, agora eu vejo, quase consigo tocar fisicamente o amor. O seu, o meu, o verdadeiro.

Nunca mais vão rolar suas lágrimas, por mim, decadente.

Hoje já posso respirar fundo, satisfeito comigo mesmo, e afirmar aos que puderem ouvir:

-Apesar de tudo, o amor comigo funcionou como o melhor tratamento. A terapia caseira foi o farol condutor, o apaziguador do turbilhão infindável que fora um certo trecho maluco, da minha estrada vicinal abandonada.

Um comentário:

  1. As vicinais muitas vezes são atalhos que nos conduzem mais depressa ao fim, mas quem está com pressa?

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